Manuscrits de Arthur Rimbaud

"O barco bêbado", "Vogais", "Minha boêmia", "O adormecido do vale"... Mais de um século após a morte de Arthur Rimbaud, seus poemas continuam a alimentar a imaginação poética de leitores de todo o mundo. E, tendo deixado para trás manuscritos esparsos de poemas que hoje sabemos de cor, Rimbaud continua a nutrir um fascínio que às vezes beira a idolatria, como se a caligrafia do poeta ocultasse os segredos de seu gênio.

Dos poemas juvenis às Iluminações, incluindo as deslumbrantes "Cartas do vidente" e as contribuições para o Álbum zutique, os manuscritos de Rimbaud reproduzidos nesta edição são os vestígios comoventes dos momentos mais decisivos de sua criação. Eles revelam, cada um deles, o aluno brilhante que ganhava os primeiros prêmios, o adolescente amante da aventura, o enfant terrible e turbulento dos círculos poéticos que em breve se tornaria o mais venerado dos poetas malditos.

Esta edição apresenta os manuscritos de todos os poemas de Rimbaud conhecidos até hoje, alguns dos quais aparecem em várias versões. “Le Cœur du pitre” [O coração do palhaço], por exemplo, tem três outras versões, reproduzidas aqui: “Le Cœur supplicié” [O coração torturado], “Mon pauvre cœur” [Meu pobre coração] e “Le Cœur volé” [O coração roubado]. Dentre essas versões que apresentam variações notáveis, duas delas têm a distinção de serem escritas pela mão de Paul Verlaine.

De fato, Verlaine às vezes fazia cópias dos textos de Rimbaud. Para alguns poemas famosos como "Cabeça de fauno" ou "O barco bêbado", inclusive, existem apenas as versões de Verlaine. Todos os poemas copiados por Verlaine estão listados no índice. Apenas dois poemas, "Devoção" e "Democracia", não aparecem nesta edição: seus manuscritos, provavelmente perdidos ou destruídos, nunca foram encontrados.

Em 1888, Verlaine anunciou que os poemas das Iluminações que se pensavam estar perdidos haviam ressurgido. A história dos manuscritos de Rimbaud, passados de mão em mão e dispersos ao longo dos anos, é feita de tais desaparecimentos e reaparecimentos.
Muito populares entre os entusiastas, alguns originais de Rimbaud pertencem a colecionadores que às vezes permanecem anônimos. Mas um grande número deles é mantido em instituições e bibliotecas europeias. Na primavera de 2018, a cidade de Charleville-Mézières adquiriu o poema “Patience. D’un été.” [Paciência. De um verão.] em um leilão, por 187.500 euros.

Para compor esta edição, partimos de um inventário dos manuscritos do poeta; em seguida, entramos em contato com cada colecionador, cada museu e cada instituição, na França, na Suíça e na Inglaterra.
UDepois de coletados os manuscritos, estes foram ordenados cronologicamente com a ajuda de André Guyaux, professor da Sorbonne, especialista de Arthur Rimbaud e editor de suas Obras completas (coleção “Pléiade”). Finalmente, realizamos um trabalho de restauração cuidadoso para restituir a esses manuscritos o seu esplendor original.

O posfácio do especialista de Arthur Rimbaud André Guyaux, "Une série de superbes fragments” [Uma série de fragmentos esplêndidos], lança luz sobre a fascinante história das Iluminações – porque os poemas reunidos nessa coletânea ainda estão envoltos em mistérios. O título foi transmitido por Verlaine. E alguns dos poemas, escritos em folhas de tamanhos diferentes e não numerados, desapareceram diversas vezes...

Verlaine temia que eles estivessem "perdidos para sempre" antes de vê-los ressurgir. A coletânea deu então lugar a várias edições, inicialmente incompletas, antes de chegar até nós. A leitura dos manuscritos que compõem as Iluminações revela ainda a ocorrência da palavra "Iluminações" – a única existente – no canto superior esquerdo de uma das folhas: a que contém o poema intitulado "Promontório".

No outono de 2018, uma carta desconhecida de Rimbaud ressurgiu, sugerindo o possível aparecimento de outros escritos do poeta. Essa carta é a única carta datada de 1874 conhecida até o momento. Dirigida a Jules Andrieu, ela revela o ambicioso projeto de uma obra intitulada História esplêndida – projeto que Rimbaud teria imaginado na época em que, dividindo um quarto com o poeta Germain Nouveau, em Londres, passava a limpo certos poemas das Iluminações.

Parecia-lhe particularmente caro este projeto de uma História esplêndida, tendo ele a ambição de pintar "o pano de fundo das religiões, os traços do direito, a enarmonia das fatalidades populares", etc. É com estas palavras que ele completa a carta de 1874, anunciando a conclusão de uma obra da qual nenhum vestígio jamais foi encontrado: "Além disso, posta a questão, serei livre para avançar misticamente, ou vulgarmente, ou habilmente. Mas um plano é essencial."