Tiragem cor chocolate,
1.000 exemplares numerados,

180 €
O lírio do vale
Edição em francês
Grande formato (25 x 35 cm)

Mais detalhes

O lírio do vale, o manuscrito inédito de Honoré de Balzac

Em meio século de vida, quantas horas, dias, meses e anos Honoré de Balzac terá passado em sua mesa de trabalho planejando sua obra-prima incomparável, provavelmente precursora das séries atuais, A COMÉDIA HUMANA? Ciclo romanesco colossal que no entanto ficará inacabado, cuja publicação se estendeu de 1831 a 1850, A COMÉDIA HUMANA foi inaugurada com o lançamento de A Bretanha em 1799, em 1829. O lírio do vale é o sexto volume escrito por Balzac, depois de A pele de onagro (1831), Eugênia Grandet (1833), O pai Goriot (1835) e O coronel Chabert (1835).

manuscrit du Lys dans la vallée

Quando não estou escrevendo meus manuscritos, estou pensando sobre meus planos, e quando não estou pensando sobre meus planos e fazendo manuscritos, tenho provas gráficas a corrigir. Essa é minha vida. (Carta para Madame Hanska, 14 de novembro de 1842)
 

Um manuscrito que, na mente de Balzac, era mais próximo de um roteiro, um esboço avançado que ele então desenvolveria em provas de impressão gráficas. Isso porque o nativo de Tours, a exemplo de outros gigantes da literatura do século 19, como Júlio Verne, tinha a mania de retrabalhar constantemente o que escrevia. Assim, o relato da gênese de O lírio no vale começa com seu primeiro esboço, comovente e surpreendente, que é o presente manuscrito, conservado na biblioteca do Institut de France (Paris); e poderia continuar através do estudo de muitas provas de impressão ou bonecos que resistiram ao teste do tempo.

O lírio do vale, uma composição conturbada

Em março de 1835, o escritor mencionou o projeto pela primeira vez, em uma carta à marquesa de Castries. A redação da versão final no entanto levará vários meses, entre Viena, Nemours – na residência de Laure de Berny – e Issoudun, na casa de amigos. Tudo isso com uma sucessão de reviravoltas inesperadas...

Balzac encontrará pelo caminho um personagem que será inseparável da história deste manuscrito: François Buloz. Buloz era um grande editor e diretor de duas revistas de prestígio: Revue des Deux Mondes e Revue de Paris. A segunda publicaria O lírio do vale em folhetim, como era costume na época. Em maio de 1835, Balzac, prometendo se dedicar a essa criação, envia uma carta a Ève Hanska: "Jurei a mim mesmo que escreveria esse texto em Viena, ou me jogaria no Danúbio". Em 31 de julho, François Buloz finalmente recebe parte do manuscrito, ainda não concluído por Balzac. Como de costume, ele planeja continuar a redação no outono, após iniciar a revisão do texto já redigido, em agosto.

le manuscrit de Balzac

As primeiras partes de O lírio do vale aparecem de novembro a dezembro de 1835 na Revue de Paris, mas uma grande desavença se instala entre Buloz e Balzac, fazendo com que sua colaboração seja suspensa: com efeito, Buloz publicou, na Revue étrangère de Saint-Pétersbourg, sem a autorização de Balzac, as provas de impressão não corrigidas do texto, obviamente tidas como muito imperfeitas por seu autor!

Em 1836, entre seu processo contra Buloz, uma detenção no Hôtel Bazancourt, conhecido como “Hotel dos Feijões”, um centro de detenção da Guarda Nacional de Paris – Balzac recebeu ali várias condenações por escapar às suas obrigações militares –, e uma estadia no campo em maio, o escritor continua a completar, incansavelmente, páginas manuscritas e impressas. O livro, em sua versão inicial completa, aparece em junho de 1836 pelas edições Werdet. Em 12 de junho, Balzac volta a dirigir-se a Ève Hanska: “Trabalhei noite e dia para poder terminar o livro a tempo de publicá-lo no mesmo dia do julgamento”. Mas as reedições seguintes – em 1839 e 1844, em particular – ainda trarão vestígios do trabalho infinitamente retomado de Balzac, que retirará do romance palavras antiquadas, simplificará certas expressões, mudará nomes...

Um manuscrito que ilustra os métodos de Balzac

O lírio do vale ilustra tanto o método de trabalho de Balzac quanto a beleza desse gesto inicial do escritor, capaz de produzir versões muito diferentes umas das outras, do rascunho à conclusão. Estes 140 fólios, compostos em tinta roxa e marrom, se iniciam com uma página de rosto sem numeração e com o texto do primeiro prefácio. Confissão em primeira pessoa – nele há muitos elementos autobiográficos, aliás –, o romance começa com o episódio do Baile de Tours, em vez de retratar a juventude de Félix de Vandenesse, o herói do livro. Essa versão original, espinha dorsal de O lírio do vale, não apresenta a dimensão epistolar acentuada ao longo das sucessivas séries de provas de impressão. Cerca de 100 fólios teriam sido escritos em junho-julho de 1835, enquanto os fólios 105 a 136, em agosto de 1835. Os fólios 137 a 140 foram datados do início de junho de 1836, ou seja, antes da publicação do romance por Werdet.

Le Lys dans la vallée, le manuscrit d'Honoré de Balzac

Depois de ter pertencido a Ève Hanska, esposa e mais tarde viúva de Balzac, o manuscrito tornou-se propriedade de Charles de Spoelberch de Lovenjoul (1836-1907). A coleção deste último foi legada, em 1907, à biblioteca do Institut de France, onde o documento ainda se encontra conservado, juntamente com o primeiro, o quinto e o sexto arquivos das provas de impressão.

O lírio do vale, peça fundamental de um trabalho faraônico

O lírio do vale, segundo a nomenclatura clássica, faz parte das Cenas da vida no campo – eventualmente das Cenas da vida provinciana. A COMÉDIA HUMANA, se pode ser lida peça por peça, forma também um todo com numerosas e vertiginosas ramificações. Como Balzac conseguiu produzir tal coerência, desde os primeiros momentos, desde O lírio do vale?

Manuscrits de La comédie humaine

Essa obra seria aclamada durante a vida de Balzac e também depois, como testemunha a escrita da série Rougon-Macquart por Émile Zola 20 anos depois, ou mesmo estas poucas palavras de Charles Baudelaire em um artigo sobre Théophile Gautier, em 1859 (publicado na revista L’Artiste):

“Visionário apaixonado. Todos os seus personagens são dotados do ardor vital com que ele próprio foi animado. Todas as suas ficções são tão profundamente coloridas quanto os sonhos […]; enfim, todos em Balzac, até as portas, têm talento.”

Ao longo de sua vida, Honoré de Balzac nunca deixou de escrever para captar a realidade; contar a história humana para conservar um pouco de eternidade. Foi no princípio da Monarquia de Julho que uma abordagem literária racional viu gradualmente a luz do dia em sua mente fértil. É verdade que Balzac já publicara antes. O rapaz de 30 anos tinha até muitas obras em seu crédito, mas não era conhecido, pois seus textos haviam aparecido sob pseudônimos; tentara algumas aventuras profissionais, mais ou menos arriscadas, como a empresa tipográfica que o deixaria muito endividado.

Em 1829, portanto, a carreira de Honoré de Balzac deu uma guinada: antes ele tinha esperado fazer fortuna compondo romances sentimentais, mas agora decidiu construir seus enredos de uma forma diferente, bem como o quadro histórico e geográfico em que eles tomam lugar. Esse projeto inaugural tinha um título, Le Dernier Chouan ou la Bretagne en 1800 [O último Chuan ou a Bretanha em 1800] – que mais tarde se tornaria Les Chouans [A Bretanha em 1799, no Brasil]; a obra manifestava o orgulho de sua paternidade balzaquiana, já que seu autor finalmente concordou em assiná-la com seu nome; e isso marcou o início de uma avalanche de sucesso para ele.

beau livre Le Lys dans la vallée

Em 1831, A pele de onagro foi publicado por várias revistas, sob diferentes títulos. O entusiasmo foi imediato, e a popularidade do romance ultrapassou as fronteiras do país. Goethe, que acabara de completar seu Fausto, teria ficado impressionado com suas qualidades. A história de sucesso apenas começava. Em 1833, o escritor decidiu reagrupar vários dos seus romances sob o título Cenas da vida privada, e depois outros sob os títulos Cenas da vida provinciana, Cenas da vida parisiense e, ainda, Cenas da vida no campo. Em 1841, Balzac finalmente encontrou um nome para essa grande obra, que somaria mais de 90 romances: A COMÉDIA HUMANA.

Roman de Balzac manuscrit

Fontes:

- Honoré de Balzac, La Comédie humaine. Volume IX. Édition publiée sous la direction de Pierre-Georges Castex. Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard (Paris, 1978).

- Honoré de Balzac, Correspondances. Tomes I, II, III. Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard (Paris, 2006, 2011, 2017).

- Bibliothèque de l’Institut de France (Paris).

- Maison de Balzac (Paris).

- Groupe d'Études balzaciennes (sous la direction de Nathalie Preiss), Groupe international de recherches balzaciennes (sous la direction de Nicole Mozet) Société des Amis d’Honoré de Balzac et de la Maison de Balzac (sous la direction d’Anne-Marie Baron).

Agradecimentos a: Françoise Bérard, Emmanuelle de Boysson, Yves Bruley, Xavier Darcos.