Courrier Sud de Antoine de Saint-Exupéry
Tiragem azul,
1.000 exemplares numerados,
Correio Sul, o manuscrito de Antoine de Saint-Exupéry
Se, para milhões de leitores em todo o mundo, o nome Antoine de Saint-Exupéry evoca O Pequeno Príncipe, ele também é indissociável de uma extraordinária epopeia do século passado: a aventura da companhia de correio aéreo Aéropostale. Uma aventura cuja história ele descreve no manuscrito de seu primeiro romance, Correio Sul, que a SP Edições reproduz pela primeira vez, graças à Fundação Martin Bodmer e à sucessão Saint-Exupéry – d'Agay.
Ele escrevia para voar ou voava para escrever? , perguntou-se Umberto Eco. A resposta provavelmente está em algum lugar entre as duas opções, tendo em vista que Saint-Ex' tinha grande estima pela literatura. E este manuscrito que retraça as peregrinações, em terra e no ar, do inesquecível Jacques Bernis pode sem dúvida ser considerado o casamento feliz de suas duas grandes paixões. Um documento que confirmaria, de certa forma, sua escolha de ser um homem de letras e um homem de ação?
O chamado dos ares
Na década de 1920, Antoine de Saint-Exupéry experimentou os prazeres aéreos durante o serviço militar em Estrasburgo – no 2º regimento de aviação de caça –, depois em Casablanca e Le Bourget. Em 1926, foi contratado pela Sociedade de Aviação Latécoère, para a qual assegurou, ao lado de Mermoz ou Guillaumet, as linhas de correio aéreo entre Toulouse, Dakar e Casablanca.
Em 1927, foi nomeado chef d’aéroplace em Cap Juby (Port Tarfaya, na costa sul do Marrocos). O jovem, que ainda não completara trinta anos, morou em um forte isolado, entre a areia e o mar, por 18 meses. Os dias e noites que se prolongavam, quase sempre solitários, eram propícios ao desenvolvimento de outro de seus talentos: o de escritor. Saint-Ex’ decide exercitar a sua pena, como explica nesta carta: “Li um pouco e decidi escrever um livro. Já tenho 100 páginas e estou bastante emaranhado em sua construção.” O maço de páginas em que ele deposita a epopeia repleta de peripécias de Jaques Bernis, o herói de Correio Sul, enegrece e se adensa. No início de 1929, ele está prestes a concluir a redação de uma obra que marcaria sua notável e bem-sucedida entrada no mundo das letras.
Un primeiro romance inesquecível
Courrier Sud é o primeiro romance publicado de Saint-Ex’, mas o jovem autor já fora citado no número 11 da revista Le Navire d’Argent, dirigida pela famosa livreira parisiense Adrienne Monnier, à frente da La Maison des Amis des Livres. Em 1926, a revista publicara “O aviador” (excerto de um texto mais substancial intitulado “A evasão de Jacques Bernis”), que já prenunciava, de certa maneira, Correio Sul e Voo noturno.
Correio Sul pode, talvez, ser considerado como um desenvolvimento de “A evasão de Jacques Bernis”, do qual encontramos alguns fragmentos – há muito considerados perdidos! – na sua contracapa. Ou, ainda, como uma forma de Saint-Exupéry encenar o universo que amava, os desafios confrontados pela figura do piloto e as dificuldades que ele próprio viveu – em particular, a difícil escolha entre viagem geográfica e relação amorosa, já que teve o seu noivado rompido pela família de Louise de Vilmorin, com quem iria se casar, devido ao caráter perigoso de sua profissão...
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Em maio de 1929, a Nouvelle Revue Française publica trechos de Correio Sul. Em seguida, vem a edição completa lançada pela Gallimard, com prefácio do jornalista e escritor André Beucler. O sucesso do livro convence Saint-Exupéry a seguir sua carreira de escritor.
Então era noite. O Saara se desenrolou duna por duna sob a Lua.
Um manuscrito que testemunha a febre criadora de Saint-Exupéry
Um manuscrito excêntrico, impulsionado pelo ardor criativo do jovem, cuja escrita a lápis se estende por 171 páginas, com traços vermelhos e azuis, ou ainda em tinta preta e roxa... Misturam-se páginas datilografadas à máquina de escrever, copiosamente riscadas e corrigidas à mão, desenhos (silhuetas, pequenas figuras em movimento, paisagens ou decorações de interiores, e até pinturas mais elaboradas como nas páginas 125 ou 166, ou o retrato no final da página 145...), etc.
Uma relíquia comovente
As 171 folhas deste manuscrito foram oferecidas por Antoine de Saint-Exupéry a Louise de Vilmorin em 1929. Apesar de sua ruptura, o aviador nunca deixou de amar a poeta. Por ela, ele experimentou uma dor incomum e duradoura, da qual encontramos vestígios em todas as suas obras de ficção.
Relíquia comovente […], o manuscrito compósito desta obra nascida tanto do ar quanto da areia foi redigido em folhas finas e frágeis de papel vegetal branco ou em papéis de carta (como o do “Restaurant du Grand Café des Bains” em Saint-Raphaël!), fazendo com que o conjunto constitua um maço de páginas de uma leitura exigente, repletas de rasuras, supressões, comentários, mas também sobrecarregadas com vários desenhos e esboços. (ver prefácio de Nicolas Ducimetière, vice-diretor da Fundação Martin Bodmer)
Correio Sul, um romance atemporal
A publicação de Correio Sul estabeleceu definitivamente o autor no mundo das letras. Voo noturno, lançado em 1931, foi outro sucesso de crítica e de vendas, tendo ganhado o Prêmio Femina em dezembro. Em 1937, Correio Sul foi adaptado para o cinema por Pierre Billon, com Pierre Richard-Willm no papel de Jacques Bernis. Saint-Exupéry participou ativamente do desenvolvimento do roteiro (recortes e diálogos).
Um manuscrito conservé à la Fondation Martin Bodmer
Há cerca de 50 anos, o manuscrito é conservado pela Fundação Martin Bodmer (Cologny, Suíça).
Desde a sua criação em 1971, a Fundação Martin Bodmer tem sido uma instituição obrigatória para os amantes da literatura e bibliófilos. É o lar da prestigiosa Bibliotheca Bodmeriana, inscrita no registro “Memória do Mundo” da UNESCO e composta por mais de 150.000 papiros, incunábulos, manuscritos e edições raras.
A reprodução do manuscrito é acompanhada por um texto de Olivier d'Agay, um prefácio enérgico e erudito de Nicolas Ducimetière (vice-diretor da Fundação Martin Bodmer desde 2021, historiador de livros e bibliotecas, curador de exposições) e um posfácio de Jacques Berchtold (diretor da Fundação Martin Bodmer desde 2014, ex-professor da Sorbonne Nouvelle e da Universidade Sorbonne, cofundador e codiretor da coleção “L’Europe des Lumières”). Em “Qu’est-ce qu’être un aviateur” (O que é ser um aviador), Jacques Berchtold explora, em algumas linhas contundentes, a dimensão eminentemente filosófica do estatuto de aviador e escritor.
Enquanto o indivíduo viver sedentário na França metropolitana, uma imobilidade estéril o ameaçará. Saint-Exupéry, para mostrar a “humanidade”, representa o homem enfrentando as provações da existência longe do conforto urbano. Os pensamentos, memórias, consciência do protagonista manifestam, em momentos cruciais, sua liberdade, e seus atos voluntários são a sua tradução. Tanto o destino do homem como o seu amadurecimento face à amizade e ao amor se dão, assim, na solidão: o desnudamento do essencial é favorecido pelas aventuras entre o céu e a areia, entre o plano e o deserto, caracterizadas pelo despojamento. A elevação espiritual é despertada por meio da mobilidade e da ação.
Jacques Berchtold
Fontes:
- Antoine de Saint-Exupéry, Œuvres complètes, vol. I et II. Sous la direction de Michel Quesnel et Michel Austrand, NRF, Bibliothèque de la Pléiade, Éditions Gallimard (Paris, 2018).
- Antoine de Saint-Exupéry, Courrier Sud. Éditions Gallimard (Paris, 1929).
- Antoine de Saint-Exupéry, Manon, danseuse – et autres textes inédits. Gallimard, NRF (Paris, 2007). (Manon, danseuse suivi de L’aviateur – Autour de Courrier Sud et de Vol de nuit – Je suis allé voir mon avion ce soir suivi de Le pilote et de On peut croire aux hommes – Sept lettres à Nathalie Paley). Textes réunis, établis et présentés par Alban Cerisier et Delphine Lacroix.
https://fondationbodmer.ch/
https://www.antoinedesaintexupery.com
https://www.antoinedesaintexupery.com/courriersud/
Editado em grande formato
Foram impressos 1.000 exemplares desta edição azul.
Cada caixa é feita à mão.